As Dicas de Leitura de setembro celebram o centenário de nascimento de João Cabral de Melo Neto em 2020.
Em 9 de janeiro de 1920, no Recife, nascia o poeta e diplomata brasileiro João Cabral de Melo Neto, falecido em 9 de outubro de 1999, na cidade do Rio de Janeiro. O escritor foi membro da Academia Pernambucana de Letras Academia Pernambucana de Letras (embora não tenha comparecido a nenhuma reunião como acadêmico, nem mesmo à sua posse) e da Academia Brasileira de Letras, onde foi empossado no ano de 1969. Foi agraciado com vários prêmios literários, entre os quais: o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras (1955), o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Camões (em 1990) e o Prêmio Neustadt (em 1999), tido como o "Nobel Americano", sendo o único brasileiro galardoado com tal distinção. O acervo das bibliotecas do Sistema Municipal de Bibliotecas possuem diversas obras do autor, bem como livros em braile e gravação de som.
“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.”
Morte e vida severina e outros poemas
É um livro de poesia regionalista e modernista. A obra descreve a viagem
de um sertanejo chamado Severino, que sai de sua terra natal em busca
de melhores condições de vida. Durante a jornada Severino se encontra
tantas vezes com a morte que, desiludido e impotente, percebe que a luta
é inútil - como ele, tantos outros severinos padecem com a miséria e o
abandono. Apenas o nascimento de um bebê, uma criança-severina, renova
as esperanças e o espírito cansado.
O livro foi encenado para o cinema, a televisão e inúmeras peças
teatrais. A primeira representação de Morte e Vida Severina se deu com
um grupo de teatro do Pará em 1957.
Agrestes: poesia, 1981-1985
Nos poemas desse livro, João Cabral fala de Recife e Pernambuco,
mesclados com certa nostalgia e com suas lembranças de infância; faz
descrições da Espanha, sobretudo de Sevilha, onde sua poesia ganha um
aspecto feminino, sensual; versa sobre autores consagrados, como Henry
James, Murilo Mendes e Paul Valéry; descreve suas impressões como
embaixador na África e na América Latina; e compõe poemas ligados à
morte, muitas vezes com uma certa ironia que lhe é característica.
A escola das facas; Auto do Frade
A escola das facas é considerado um marco em sua poesia. Publicado em
1980, enquanto o autor ocupava o posto de embaixador no Equador,
apresenta 44 poemas que falam de Pernambuco, com suas paisagens de
coqueiros e canaviais, seus engenhos, seus personagens políticos e
figuras históricas. São poesias que retomam os temas consagrados de
Cabral - o rio, o sertão, o povo e o canavial. No entanto, o poeta, ao
recontar antigas memórias de criança, pela primeira vez se coloca como
personagem. Em autobiografia de um só dia, por exemplo, ele imagina seu
nascimento; em "Prosas da maré na Jaqueira", versa sobre o Capibaribe
da infância; em "Descoberta da literatura", fala de seu contato com a
literatura de cordel, ainda menino, quando lia as histórias em voz alta
aos empregados do engenho. Em Auto do frade, publicado quatro anos mais
tarde, Cabral narra o momento em que Frei Caneca, ou frei Joaquim do
Amor Divino Rabelo, figura proeminente da Revolução Constitucionalista
de Pernambuco, de 1824, é levado à execução. "Que ninguém se aproxime dele./ Ele é um réu condenado à morte./ Foi contra Sua Majestade,/ contra a ordem, tudo que é nobre."
Crime na Calle Relator; Sevilha andando
Nessas duas obras, editadas num único lançamento - Crime na calle
Relator (1987) e Sevilha andando (1989), o autor adota temas distintos
sem, no entanto, abandonar o rigor e a forma que o consagraram. Dentre
as cidades em que viveu na Espanha - Barcelona, Madri e Sevilha - é a
essa última que o poeta dedica seus últimos trabalhos. Em Sevilha
Andando, deixa de lado sua amada Recife para falar de outra cidade onde
morou e se apaixonou, e assim a descreve em "O segredo de Sevilha": "Sevilha é um estado de ser,/ menos que a prosa pede o verso".
Já em Crime na calle Relator, o humor é ingrediente principal utilizado
pelo poeta nas 25 pequenas histórias baseadas em fatos reais que
compõem o livro. Com descrições de cunho realista, o autor dá vida a
essas anedotas ocorridas em diferentes lugares da Espanha. Descreve
personagens notáveis nos versos, como toureiros, poetas, bailadores, e
cantadores andaluzes.
Museu de Tudo
O livro é uma coletânea de 84 poemas esparsos, escritos entre 1946 e
1974, e o autor abre deliberadamente mão da arquitetura cerrada dos
seus livros anteriores, como ele mesmo explica em um poema de abertura:
"Este museu de tudo é museu/ como qualquer outro reunido;/ como museu,
tanto pode ser/ caixão de lixo ou arquivo./ Assim, não chega ao
vertebrado/ que deve entranhar qualquer livro:/ é depósito do que aí
está,/ se fez sem risca ou risco".
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Informações de João Cabral de Melo Neto na Wikipedia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Cabral_de_Melo_Neto
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Observação: Devido a paralização de publicações no portal da prefeitura durante o periodo de eleições municipais, as Dicas de Leitura de setembro foram publicadas somente em dezembro de 2020.
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